A (negada) plenitude de amar…

Essa postagem originalmente esteve [em 2016-10-20] em minha página criada no Medium — que abandonei depois que a rede se tornou paga e ter recursos premium, “bloqueando” a distribuição de textos autorais não pagos aos demais usuários. Trago-a para cá para manter o acesso livre e a todos.
Escrevi para o antigo blog de uma amiga minha [em 2015-03] e segue abaixo com pequeníssimas adaptações (mais correção de texto mesmo).

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A (negada) plenitude de amar…


Pensem nas seguintes cenas: você com aquele alguém especial, caminhando de mãos dadas pelo shopping, tomando sorvete ou dividindo um café gelado, sorrindo um para o outro. Um cinema, pipoca dividida, braços dados, beijinhos roubados durante a sessão. Uma caminhada pela praia (ou praça ou parque ou etc.), abraçados, curtindo o ventinho batendo e vocês sorrindo, despreocupados, em paz e felizes.

Conseguiu imaginar? Se sim, das duas, uma: ou vocês são um casal hétero ou são um casal gay muito despreocupado (menos provável) ou muito imaginativo (mais provável).

Pense em quantas pessoas têm que deixar de lado a felicidade das coisas simples do dia-a-dia, que não querem se expôr, que têm medo de que descubram sobre sua orientação sexual, que acabam parecendo frias ou acabam negando carinho ou não sabendo como aceitar quando ele é oferecido, por puro medo!

Sim, medo! Medo de amar, de ser amado! Isso nem deveria existir! Mas existe pra quem é diferente. E aqui me meto a estender essa condição a todos os casais de diferentes que já sofreram algum tipo de discriminação: brancos + negros, gordos + magros, altos + baixos… e, claro, homem + homem, mulher + mulher.

Medo de sair na rua à noite, por receito de ser espancado na volta para casa. — Sim, acontece! E, sim, conheço pessoas que já sofreram com isso e sequer puderam pedir ajuda da polícia, porque em vez de apoio receberam um “deixa disso” como resposta!

Medo de andar de mãos dadas no shopping, sem ter um mínimo de 20 olhos penetrantes pelo caminho, te acusando de ser um monstro que quer destruir a sociedade — quando você só quer amar e ser amado, como todo mundo!

Medo de postar uma foto numa rede social, que seja! — Porque seria “se expôr demais”. E sabe o que significa se expôr demais? Ter 20 MIL pares de olhos te observando e julgando e condenando. Pessoas que segundos atrás eram suas amigas, faziam parte da sua família, e que resolveram virar as costas. Mas, tudo bem, você se importa se quiser, não é? Melhor ficar longe desse tipo de pessoa do que conviver com elas, certo? Claro! Virtualmente, sim, mas e no mundo real? Daí voltamos ao medo ali de cima, de andar à noite e apanhar no caminho de casa.

É um romance complicado, se você se dispuser a parar de pensar. Ter que equilibrar carinho, afeto, sem saber como ou sem poder demonstrar seus sentimentos, ter que passar a vida sem saber se um dia será reconhecido como um casal (jurídica ou legalmente falando, inclusive), sem saber se um dia vão conseguir ver vocês dois pelo que são: duas pessoas tentando viver uma vida juntos, partilhando experiências, porque se amam o bastante pra isso.

Algumas não dão conta, não conseguem viver assim, acabam optando pela solidão. Outros descambam pra promiscuidade (que, sim, existe e é comum ao gênero humano, não a grupos seletivos de gays, ok? hétero também toca o terror por aí e a galera tá de boa com isso). Alguns poucos continuam tentando e dando a outra face pra essa sociedade estapear à vontade. Alguns ainda esperam poder amar sem preocupação, demonstrar amor sem medo ou sem que peçam que você não faça isso.

E depois ainda querem dizer que há igualdade de tratamento entre todas as pessoas do país. E eu concordo! Claro! Há igualdade de tratamento entre todos que se encaixam nesse padrão imposto por séculos de cultura decadente e ultrapassada. — Os outros? Problema é deles. “Escolheram” ser assim.

Enquanto não houver amor pelo homem e pela mulher como iguais, pelo ser humano em geral, como ele simplesmente é, haverá julgamento e condenação. Haverá casais infelizes, escondendo-se do mundo. Haverá gente carente de afeto, de calor humano, de amor, de ser feliz, de mostrar que encontrou alguém nesse mundo.

É até meio óbvio dizer, mas…

Enquanto não houver amor, haverá cada vez menos amor.


Clique aqui para ir à postagem original no Medium @andyoliv5.

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