Sobre como me joguei no mundo pop e não saí mais.

Quando a gente cresce num meio em que você não pode (por inúmeros motivos) se expressar ou não se reconhece no que te cerca, é natural que você se feche em si.
Que tipo de alívio funciona? Vou dizer o que funcionou pra mim na época, vendo agora tudo isso em retrospecto.

Desde cedo eu era a criança que brincava sozinha, porque os amigos adoravam usar como alvo pra deboche e ofensas -- como toda criança viada, é claro. Então minha diversão eram os programas de TV com música, tipo A Turma do Balão Mágico, Clube da Criança e Xou da Xuxa. Como não se deixar levar por aquele universo colorido com música, brincadeiras e desenhos animados? Que estava ao alcance das mãos e eu podia botar pra tocar o disco na vitrola! Tão maravilhoso.
[Aqui também entra outra sensação de vergonha: eu brincando e dançando bonitinho sozinho até perceber que era observado por um adulto, que achava a cena encantadora. Parei na hora e nunca mais dancei em público. Quando tentei na vez seguinte, caí e virei alvo de risos. Nunca mais dancei mesmo.]
E enquanto eu crescia o som à minha volta ia de serestas a bandas de rock chatas (algumas, sim, acho insuportáveis até hoje, graças ao exagero a que eu era exposto). O que me consolava era saber que em algum momento do dia eu estaria sozinho pra tocar as minhas músicas. E como isso me alegrava!
Cresci em meio a cantoras nacionais, bandas infantis e, mais tarde, trilhas de filmes da Disney que repetiam incessantemente no CD player.
Na adolescência veio o pagode pra todo mundo em volta, mas como eu poderia gostar de algo que todo mundo à minha volta gostava -- e a questão aqui era: eu já me via diferente de todo mundo, então encarar o mesmo gosto era como aumentar em mim a sensação de aberração, porque (por mais que eu tentasse) nunca seria um deles! Melhor abraçar aquilo que me fazia sorrir antes, não?
Os filmes da Disney continuaram, mas em lugar de Xuxa e afins vieram as Spice Girls, os Backstreet Boys, Britney Spears... e por aí vai. Tudo continuava colorido e animado e as letras exageradamente dramáticas falavam tanto em mim que era como se meu mundo estivesse preso ali.

E assim foi.
Dizem que o gosto musical do finzinho da adolescência/ início da vida adulta é o que molda nosso universo musical da vida adulta.
O meu continua cheio de Madonna, Shania Twain, Katy Perry, P!nk... e me consolando nos dias difíceis e fazendo sorrir nos dias felizes.
E o melhor? Tô nem aí se alguém fizer pouco caso disso. Meus fones de ouvido me bastam.

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